“ELLAS em Pauta”: Lideranças femininas clamam por equidade e transformação social no XVIII Congresso do Pará
17/06/2025Um poderoso coro de vozes femininas ressoou no XVIII Congresso de Direito Notarial e Registral do Pará durante o painel “ELLAS em Pauta: Vozes, Desafios e Atitudes que Transformam”, proferido no segundo dia do evento (11/06), que aconteceu na deslumbrante Estação das Docas, em Belém. Composto pela conselheira do Conselho Nacional de Justiça, Renata Gil; pela vice-reitora da Universidade Federal do Pará (UFPA), Loiane Prado; pela 2ª vice-presidente do IRTDPJBrasil e de 1ª vice-presidente do Operador Nacional de RTDPJ, Sônia Andrade, e pela presidente da ANOREG/PA, Moema Locatelli Belluzzo, o debate focou na urgência de impulsionar a participação feminina e enfrentar as desigualdades que ainda permeiam a sociedade.

Renata Gil ressaltou a importância da força coletiva na superação dos desafios. “Eu acredito de verdade que a força das pessoas, a força da sociedade, a força das instituições, elas movem as montanhas, elas transformam o mundo”, afirmou. A conselheira do CNJ fez um alerta sobre a insuficiência do poder público em lidar sozinho com as profundas desigualdades do Brasil, especialmente a fome.
A conselheira também abordou a pauta da violência contra a mulher, um problema global e nacional. “A morte de mulheres simplesmente porque elas nasceram mulheres, que é o aumento exponencial da violência doméstica contra mulheres”, pontuou, citando dados alarmantes do Fórum de Segurança Internacional, como o aumento de 35% da violência psicológica.
Ela detalhou o trabalho do Instituto Nós por Elas, e destacou a parceria com o projeto “Ellas”, com foco na atuação no Marajó, um arquipélago com dimensões equivalentes a dois estados do Rio de Janeiro.
“Nossa ideia, o Ellas, o Nós Por Elas, o Conselho Nacional de Justiça, é criar esse grande movimento, primeiro, de julgamento rápido, de processos judiciais (…) são casos de feminicídio, de estupro, de mulheres que não eram julgadas, que não tinham equipamento, lancha, gasolina, para fazer as investigações”, explicou Renata Gil. Além do combate à impunidade, o projeto foca na transformação social da região por meio do empreendedorismo feminino, com um aporte inicial de um milhão de reais para essa finalidade.

A conselheira também citou outros trabalhos do CNJ em parceria com os Cartórios, como a regularização fundiária, que, segundo ela, é um “case mundial” de sucesso no Brasil.
A vice-reitora da Universidade Federal do Pará (UFPA), Loiane Prado, enalteceu a grandiosidade da instituição, a maior da Amazônia e a segunda maior do país em número de alunos. Ela ressaltou os desafios da região Norte, que concentra os piores indicadores educacionais e sociais. “É tão importante a presença de instituições diversas para que coletivamente, em parceria, nós possamos sonhar juntos e trabalhar para que nós possamos nos aproximar cada vez mais da construção de um mundo mais justo e mais inclusivo”, declarou.
Loiane Prado destacou o perfil inclusivo da UFPA, onde “85% dos seus alunos pertencem a grupos vulnerabilizados”, incluindo pretos, pardos, indígenas e quilombolas. A universidade foca em garantir a permanência estudantil e oferecer oportunidades de inserção no mercado de trabalho. A vice-reitora também mencionou o movimento “Vozes de Ciência na Amazônia”, que promove discussões sobre sociobiodiversidade e sustentabilidade, e o fato de a UFPA ser a instituição que mais produz ciência sobre a Amazônia no mundo.

Ao abordar a questão de gênero, Loiane Prado revelou uma assimetria preocupante na UFPA: “Na nossa graduação nós temos maioria de mulheres. Na nossa pós-graduação nós temos maioria de mulheres. Mas nas lideranças, nos cargos de liderança, nós temos a maioria de homens.” Para combater essa disparidade e as violências sutis sofridas pelas mulheres, a UFPA criou uma comissão de equidade de gênero com representatividade diversa, incluindo mulheres trans, com deficiência, indígenas e quilombolas.
Sônia Andrade convidou todos os participantes para refletirem sobre quantas mulheres presentes no evento já sofreram algum tipo de violência. Ela destacou, ainda, alguns números como 1.438 casos de feminicídio em 2025, com a estatística de que de 3 em cada 10 mulheres sofrem violência doméstica no país, enquanto 89% sofrem violência psicológica. Sônia Andrade revelou o que fez para buscar mudar essa realidade.
A registradora do Rio de Janeiro explicou que quando foi vice-presidente geral do Vasco da Gama implementou o projeto Vasco Delas, cuja primeira ação foi promover reuniões mensais com torcedoras, voltadas ao empoderamento das mulheres das torcidas organizadas. Também promoveu ações de prevenção e conscientização ao câncer de mama, além de apoiar mulheres em situação de violência, a partir do projeto Sinal Vermelho.

E deixou uma reflexão. “Qual projeto você pode implementar para diminuir a violência? Qual projeto pode empoderar mulheres e colocá-las nas gestões das entidades de classe?”, finalizou.
Finalizando o painel, Moema Locatelli Belluzzo destacou o projeto Amarajó, que propõe ações concretas para a emancipação financeira de mulheres em situação de vulnerabilidade, por meio da capacitação em corte e costura, geração de renda e criação de redes de acolhimento e proteção para crianças e mulheres da ilha.
“Quando a gente tira uma mulher de uma situação de violência, a gente também tira todo aquele núcleo que envolve ela. Essa ideia de dar uma autonomia financeira para ela é muito importante. Estamos com este projeto piloto em Marajó, é um projeto muito sério, e eu peço o apoio de todos”, encerrou.
Em: 17/06/2025